terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sabiá


Em um belo dia eu estava a caminhar por um bosque, quando não pude deixar de notar a presença de um magnífico Sabiá. Ele aparentava ser tão adorável e, ao mesmo tempo tão genioso que eu tive medo de espantá-lo ao me aproximar. Poderia escolher vários caminhos, mas o que mais me agradou foi o de sentar e esperar. Observá-lo sem que notasse a minha presença. Passaram-se meses e eu continuava a ouvir o seu canto sorrateiramente.
Um caçador que também ficou maravilhado com tamanha beleza sentou-se ao lado oposto ao meu e também ficou a observar. Porém, ele não queria apenas contemplar aquele formoso pássaro, queria tê-lo para si. Então, enquanto eu estava desatento, ele construiu uma armadilha e o sabiá entregou-se por completo. Quando olhei ao meu redor, meus olhos não queriam acreditar no que estavam vendo. Ele havia ido embora sem deixar nenhum rastro. Eu estava completamente perdido, eu nunca mais veria o meu doce pássaro. Algumas semanas se passaram e eu continuava a procura do caçador, eu não ia desistir agora. Parei em uma casa de chá que ficava em algum lugar daquele imenso bosque. Sentei em uma das várias mesas e tomei um chá. Entrou um homem que me parecia familiar, ele carregava uma gaiola, nas costas, coberta com um pano preto. Por trás daquele pano pude ouvir um canto abafado, era ele. Era o meu Sabiá que estava ali escondido. Tê-lo tão perto, porém, fora do meu alcance foi doloroso. O caçador saiu da casa, eu saí logo em seguida. Precisava saber o que ele estava fazendo com o meu pássaro. Chegamos à beira de um riacho, ele colocou a gaiola em cima de uma pedra e retirou o pano. Lá estava ele, belo como sempre. A primeira coisa que fiz foi rir aliviado, ele estava bem. O caçador foi pegar água em uma fonte não muito distante, aproveitei para ficar mais próximo do Sabiá. Ele olhou fundo nos meus olhos e transmitiu toda felicidade que estava sentindo para mim. Minha preocupação tinha sido em vão. Liberei algumas lágrimas, dando as costas e deixando para trás o meu pássaro contente. De uma coisa eu pensei ter certeza: eu não voltaria mais a vê-lo.
Os meses passavam vagarosamente sem o doce canto que entrava pelo meu ouvido e percorria todo o meu corpo. Tomei coragem, então, e voltei para o lugar onde toda aquela fixação havia começado. Sentei em uma pedra, que por um segundo me pareceu iluminada, e esperei o tempo passar. Algum tempo depois, ouvi os arbustos se mexerem. Por trás de todo aquele movimento surgiu o caçador. Pensei em fugir para não ter que ver aquele homem novamente, mas o meu nervosismo me fez congelar naquela posição. Ele passou ao meu lado, parecia não me ver. Retirou a gaiola das costas, colocando-a no chão. Puxou o pano bruscamente e retirou o Sabiá de dentro, colocando-o no chão do bosque. Sem olhar pra trás ele levantou e saiu, deixando o pássaro lá, imóvel. Quando o caçador saiu do meu campo de visão tomei coragem para me aproximar do sabiá, eu tinha que ser cauteloso, qualquer movimento brusco poderia fazer com que o pássaro se assustasse e voasse para longe. Quando, enfim, fiquei perto dele olhei fundo nos seus olhos e sua tristeza tomou conta de mim. O caçador já havia usufruído toda sua beleza e canto, agora não precisava mais dele. Peguei-o com cuidado entre as minhas mãos. Não fez nenhum movimento, mas eu podia sentir o pulsar do seu pequeno, e agora magoado, coração. Ele não sabia mais voar, desaprendera depois de tanto tempo preso em uma gaiola. Não enxergava mais nada, só o que queria. Passei alguns dias ensinando-o a voar, mesmo sabendo que quando reaprendesse ele voaria atrás do seu caçador. Cada progresso que ele dava, era um retrocesso para mim, mas o que eu poderia fazer? Aprisioná-lo em uma gaiola impedindo-o de cometer o mesmo erro duas vezes? Ele não via aquilo como erro e sim como um desejo. Eu deixaria ele seguir o seu coração, assim como eu estava segundo o meu, ajudando-o. Mais dias se passaram e ele já estava voando perfeitamente. Por alguns minutos eu havia esquecido que a sua visão estava parcialmente afetada, focando-se apenas na sua idealização de amor. Acordei pela manhã mais calmo, vários dias haviam passado e o sabiá ainda não tinha partido. Talvez, ele tivesse desistido. Doce ilusão, olhei de um lado para o outro, nem sinal dele. Dessa vez eu não persistiria mais, voltaria para casa. Não tive mais notícias dele, não diretamente.
Lembro-me que toda temporada de caça era possível ouvir os tiros, seguidos de um canto de sabiá. Chorei ao lembrar dos olhos que transmitiam tantos sentimentos. Deixei-o voar para sempre dos meus olhos, mas jamais do meu coração.

[texto: Emanuela']

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

flor


Queria poder todos dias, durante toda a minha vida, te dar uma flor. Cada dia uma flor diferente. De cores, formatos e tamanhos diversos. Cada uma que eu te desse, teria um significado. Uma importância. Por ultimo, te daria a mais bela de todas, para que você percebesse quão grande é a sua importância para mim.
Porém, não posso te dar todas as flores, pois a ultima, a mais bela de todas, eu não tenho. Pois a ultima, a mais bela de todas, é você.


[texto: Emanuela']